sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Sustentabilidade Negligenciada


Tenho uma querida amiga que trabalha na instituição Médicos Sem Fronteiras (MSF), onde está fazendo um lindo trabalho com doenças negligenciadas (ela costuma dizer que são pessoas negligenciadas e suas doenças). Doenças negligenciadas são aquelas que não interessam à indústria farmaceutica porque só atingem populações pobres e, por isso, não interessa para essa indústria investir em pesquisa e desenvolvimento na produção de seus medicamentos. São doenças sem cura, sem tratamento e, muitas vezes, sem quaisquer informações a respeito. É revoltante, pessoas estão morrendo e, pior ainda: morrendo no invisível. Ninguém as vê, elas não interessam a ninguém. Mas ao MSF, sim. E eles estão ai para suprir isso...
Hoje li uma reportagem no Blog Planeta Sustentavel, da revista Super Interessante, sobre quiosques solares na Etiópia e, assim que li, pensei imediatamente nessas comunidades negligenciadas pela indústria farmaceutica.
Segundo a reportagem, "ainda em 2012, uma em cada cinco pessoas no mundo vivem no breu (sic) ao cair da noite - ao todo, são 1.3 bilhões" *. Sao pessoas negligenciadas pela sustentabilidade. Todos falam tanto sobre economia de energia e essas pessoas NEM TEM energia para economizar. Onde está a sustentabilidade para eles? O que é sustentabilidade para eles? Sustentabilidade é só sobre energia? O que significa ter energia para eles? O que é o mínimo de qualidade de vida?
Mas, diferente da indústria farmacêutica, uma empresa alemã, chamada SolarKiosk (ou "Quiosque Solar") se interessou por eles. Foi uma iniciativa limpa e barata que faz parte do projeto da ONU pelo Ano Internacional da Energia Sustentável para Todos (sim, 2012 é esse ano) e que mudou a vida de algumas dessas pessoas negligenciadas pela sustentabilidade.
A comunidade que teve sua vida modificada pela SolarKiosk fica na Etiópia, perto do Lago Langana, onde o "Quiosque Solar" foi instalado. Lá, ele vende alimentos, bebidas, remédios, cartões para celular, etc e ainda fornece energia gratuita. No seu teto, foram instalados painéis fotovoltaicos que absorvem a luz solar durante o dia (nossa... luz do dia, sol na Africa! como ninguém tinha pensado nisso?!) e abastece, dia e noite, uma geladeira comunitária (para alimentos e medicamentos), além de abastecer aparelhos eletrônicos para os moradores, como celulares, televisores, rádios, etc.
Além disso, é um ponto de comércio (e luz) noturno, gerando novos postos de trabalho, educação ambiental e, mais do que tudo, a possibilidade dos moradores poderem sair à noite com um mínimo de claridade ou, simplesmente interagir.
Soluções simples, baratas e rápidas que fazem bem para todos. A empresa alemã fez a parte dela, fez sua propaganda, ganhou notoriedade e (alguns) negligenciados da Etiópia ganharam o acesso a um mínimo de qualidade de vida. Porque não? Sustentabilidade está tão "na moda", não é? É um tal de "sustentabilidade pra lá", "sustentabilidade pra cá"... Mas o problema é que hoje em dia, "sustentabilidade" se confunde muito com economia de energia e é uma palavra usada sem nenuhum critério. Sustentabilidade está atrelada ao tal do famoso tripé da sustentabilidade: ambiental, social e econômico (todo mundo esquece o social). E uma coisa leva à outra, pois estes três aspectos estão interligados entre si e são indispensáveis. Por isso, é um tripé: se um sai, a sustentabilidade "cai". Significa que a economia de energia deve levar ao benefício social, que deve ajudar o meio ambiente e assim por diante. Economia de energia sem beneficio social não é sustentabilidade, é sustentabilidade negligenciada. Por isso, sustentabilidade não é só economia de energia isolada (apesar de ser um aspecto importante), é redistribuição dessa energia (lembrando que tem 1,3 bilhões ai sem ela!!!). É dar a quem necessita de verdade E economizar onde está sendo desperdiçado.
Parabéns à empresa alemã pela iniciativa... Mas porque a ONU não aproveita e cria também o Ano internacional dos remédios para todos?
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* Segundo outra reportagem da Revista Planeta Sustentável, são 1,4 bilhões, o que, vamos combinar, faz uma diferença considerável.
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